sábado, 28 de novembro de 2015

Rosário - Nossa Senhora e os Mistérios Gozosos

Nossa Senhora de Paris
Queria compartilhar algumas reflexões a mais em cima da meditação do Rosário que faz o S. Luís Maria Grignion de Montfort, santo que nos disponibilizou a suave receita de como se entregar à Nossa Senhora a serviço de seu filho, através do Tratado da Verdadeira Devoção à Nossa Senhora. Recomenda-se rezar o terço todos os dias e em cada mistério podemos meditar, cada vez com mais intensidade, aspectos profundos de nossa vida. Neste artigo, vou falar das meditações do 1º Terço (central naquela devoção), acompanhando a meditação deste santo ao rezar o Rosário, que começa como se segue.


Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Uno-me a todos os santos que estão no Céu, a todos os justos que estão sobre a Terra, a todas as almas fiéis que estão neste lugar. Uno-me a Vós, meu Jesus, para louvar dignamente Vossa Santa Mãe, e louvar-Vos a Vós, nela e por Ela. Renuncio a todas as distrações que me vierem durante este Rosário, que quero recitar com modéstia, atenção e devoção, como se fosse o último da minha vida.
Nós Vos oferecemos, Trindade Santíssima, este Credo, para honrar os mistérios todos de nossa Fé; este Pater (Pai Nosso) e estas três Ave-Marias, para honrar a unidade de vossa essência e a trindade de vossas pessoas. Pedimo-Vos uma fé viva, uma esperança firme e uma caridade ardente. Assim seja.
Reza-se um CREDO, um PAI NOSSO, três AVE MARIAS e um GLÓRIA AO PAI.
Os mistérios Gozosos dizem respeito a fatos relacionados ao Natal e sua meditação deve carregar esse espírito. Embora estejamos numa sociedade que valorize pouco, ainda temos este santo feriado e muitos do que lerem este texto terão em si recordações de um Natal em família, com aquele clima único.

Abaixo, a meditação comentada de cada mistério, depois da qual se rezam um PAI NOSSO, dez AVE MARIAS, um GLÓRIA AO PAI, jaculatórias o gosto e também pela descida do Espírito Santo pelas graças do mistério contemplado.

Primeiro Mistério - Anunciação do Anjo Gabriel a Maria

Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta primeira dezena, em honra a vossa Encarnação no seio de Maria; e vos pedimos, por esse mistério, e por sua intercessão uma profunda humildade. Assim seja.
Gabriel, o mensageiro de Deus, aparece diante de Maria e diz "Alegra-te, ó repleta de todas as graças, o Senhor está contigo" (Ave Maria, cheia de graça...) e avisa que conceberá virgem do Espírito Santo. E ela responde "Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1, 28-38). O anjo anuncia a alegria e a esperança num mundo de injustiças. Todo dom, toda coisa boa que fazemos ou recebemos, a isso se chama graça e provém de Deus: Maria está com toda a graça possível e de uma forma permanente, pois em seu seio está o Deus nosso salvador, ou seja, toda a graça que que existe e que precisamos.

O Espírito Santo repousou do templo mais perfeito. Quando Jesus Cristo disse que reconstruia o templo em três dias se destruído, ele não se referia às pedras, mas ao seu corpo. A Igreja convida os fiéis a participarem da sacralidade de fazer Deus habitar em nós. E Deus veio como auxílio permanente aos homens por meio do Espírito Santo em Pentecostes. Maria foi a primeira entre os homens: seu solo fértil de mulher recebeu a semente do Espírito Santo e essa semente fez brotar o Deus que tanto esperávamos, o Deus de Israel, que escolheu dessa vez toda a humanidade.

O Deus está com ela, templo da Santíssima Trindade, e essa lição nos mostrou como permitir que Deus esteja em nós. Por isso que S. Luís pede "uma profunda humildade". Se nós estamos repletos de nós mesmos, não precisamos de Deus e nem do próximo. Maria se esvaziou de si mesma e de sua vontade, "faça-se segundo tua palavra", e permitiu que Deus plantasse sua semente no mundo, a semente de Deus, a providência que pensa em nós e no próximo, a fim de criar o Reino que Ele nos preparou.

Maria, mulher, está acima de toda a criatura (quem diria, feministas!) no momento que se fez de mais humilde. Ela não tinha em si a solução para tudo: ela precisou e quis se abrir a Deus. Ela poderia simplesmente ter dito "não", ou seja, oferecer um solo pobre e ressequido. Mas como o maior exemplo feminino, sua fertilizade nos trouxe Deus, com o mesmo Espírito Santo disponível hoje a todos nós, pelo qual recebemos a graça de reconhecermos a Igreja e fazermos parte dela. Se formos tão acolhedores como ela, talvez possamos dizer como S. Paulo (Gl 2, 20) que já "não sou eu, mas Cristo em mim".

Deus Pai, Filho e Espírito Santo. A grande punição do pecado Original em Eva foi nos privarmos do convívio com Deus, com a Santíssima Trindade. Maria com seu "sim" presenteou a humanidade inteira com a possibilidade do amor conforme a Trindade, distribuído entre todos os homens quando eles recebem a Deus de forma liberal. Devemos a ela a nossa salvação, pois Deus quis (e quer) depender de que acolhamos livremente sua vontade. Maria não hesitou, não teve nenhuma vontade mesquinha, nenhum prazer pequeno, nenhum arroubo de importância: sua insignificância foi o que Deus mais apreciou nela e por isso ela recebeu tudo. E por isso a humanidade recebeu tudo, mas ainda assim precisamos dar o nosso "sim".

Justamente esse mistério é o central da Devoção revelada a nós por S. Luís de Montfort.

Segundo Mistério - Visitação de Maria a Isabel

Nos vos oferecemos, Senhor Jesus, esta segunda dezena, em honra da visitação de vossa santa Mãe à sua prima santa Isabel e da santificação de São João Batista; e vos pedimos, por esse mistério e pela intercessão de vossa Mãe Santíssima, a caridade para com o nosso próximo. Assim seja.
Maria poderia ter se ensoberbecido, pois agora é a mais digna de todas as mulheres, a mais bela e alta de todas as criaturas, cuja extrema humildade a colocou acima de todos, abaixo só da Trindade. Mas ela foi visitar sua amiga e prima, mãe do futuro profeta (e maior de todos), João Baptista, que teve o privilégio da profecia mais concreta: Jesus Cristo no meio de nós. Maria, após chegar a Isabel de longa viagem, ouve "Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre." E Isabel acrescenta: "Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor?".

Maria visita Isabel, Jesus no ventre visita e santifica João Baptista no ventre. A salvação não é somente Deus em mim. Isto é só o início. É preciso visitar o próximo e suas dificuldades. E essa alegria da convivência com o próximo em nome de Deus --"onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles" (Mt 18, 20) -- fez Maria oferecer o maior de todos os louvores a Deus, o Magnificat (Lc 1, 46-55).

Terceiro Mistério - Nascimento de Jesus

Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta terceira dezena, em honra ao vosso nascimento no estábulo de Belém; e vos pedimos, por este mistério e pela intercessão de vossa Mãe Santíssima, o desapego dos bens terrenos e ao amor a pobreza. Assim seja.
Após o santo recolhimento, a reflexão de nossa conduta, a oração a Deus, eis que Jesus nasce em nós, assim como nasceu em Maria. Em sintonia com o 1º mistério, eis mais uma lição da humildade: a pobreza. Maria abriu mão de todos os bens terrenos, de toda a fama, de todo o prazer, de todo o conforto. Ela foi dar à luz num estábulo. Jesus também se fez pobre. Ele estava no alto de sua dignidade e aceitou revestir-se da infamante condição humana, abaixo dos anjos, condição de miséria e sofrimento. Compartilhou tudo, menos o pecado. Para quem tinha o céu a seu serviço, o trono para sua glória, o convívio entre os homens era uma enorme indignidade. Mas ele se fez humilde e deu uma lição aos soberbos ("dispersit superbos mente cordis sui" - Lc 1, 51).

Só precisamos de Deus: eis a lição repetida.

E ressalte-se que a maior pobreza não é a material. "Bem aventurados os pobres de espírito". Essa pobreza não é defendida por nenhuma ideologia. Quem está repleto de ideias para consertar o mundo ou para ser feliz, esse é um "rico de espírito": está rico do espírito do mundo, pobre do Espírito Santo. A pobreza é deixar-se pobre nas mãos de Deus, é confiar o mais pequeno dos detalhes de sua vida, sobrevivência e felicidade nas mãos de Deus. Aquele que acha que não precisa de Deus e de ninguém, se faz rico e solitário, comete o pecado contra o primeiro mandamento e todos os outros nove.

Quarto Mistério - Apresentação Jesus no Templo e Purificação de Nossa Senhora

Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta quarta dezena, em honra a vossa apresentação ao templo, e da purificação de Maria; e vos pedimos, por este mistério e por sua intercessão, uma grande pureza de corpo de alma. Assim seja.
A primeira e mais baixa interpretação é que Jesus quis fazer-se obediente às leis dos homens, assim como diz "a Deus o que é de Deus, a César o que é de César" (Mt 22, 21).

Na nossa sociedade sem fé já não se acredita que a Igreja tenha em si uma realidade transcendental (o Corpo de Cristo), não se acredita que na hóstia e vinhos consagrados está verdadeiramente o Cristo crucificado, que no Batismo recebemos o selo de Deus, que a confissão elimina nossos pecados, que o casamento é união celebrada diretamente por Deus a seu serviço de continuar a criação. Tudo se tornou terreno. Parece que não há meios de intervenção divina sobrenatural na terra: tudo é normal, entediante, repetitivo, trivial, banal e sem sentido.

Após Jesus ter nascido em Maria, ela leva o seu primogênito a ser oferecido a Deus no tempo e oferece dois pombos por seu resgate. Na verdade não houve resgate, Ele foi de fato consagrado a Deus pela cruz. Este era o costume entre os judeus, o primogênito de tudo era de Deus por direito: os filhos, a colheita, o rebanho. De forma análoga, a primogenitura no nosso trabalho.

Como o trabalho de Maria foi 100% espiritual durante toda a sua vida consagrada a Deus, ela veio apresentar o primeiro fruto que nasceu dele, que é Jesus. Quando nos abrimos à providência divina para que ela trabalhe em nossa vida, o mais alto que nasce em nós devemos oferecer a Deus. E ela foi oferecer no templo, que é a Igreja. Num mundo em que não há Deus, obviamente a Igreja não passará de uma construção de pedras, de uma instituição falida. Mas se Deus existe e quer vir a nós, só poderá ser encontrado onde houver dois ou mais em seu nome, ou seja na Igreja (assembleia, reunião de pessoas, em grego).

Só uma pessoa de pouca fé não veria que na Igreja está real e concretamente, embora invisível a olhos embrutecidos, o Corpo de Cristo. Por isso Maria foi oferecer Jesus a Deus na Igreja, como manda Jesus: "amarás a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo" (Lc 10, 27). Pois o melhor de nosso trabalho devemos oferecer a Deus, e no final só poderemos apresentar isso na Igreja, ou seja, ao próximo. Tem pouca fé quem não acredita na eternidade e santidade da Igreja, Cristo se movendo na terra, que permanecerá viva sempre, contra a qual "não prevalecerão as portas do inferno" (Mt 16, 18).

E para deixar que isso não crie soberba em mim, vou em espírito de humildade. Pois isso, mesmo acolhendo a Deus em minha vida, apresento meus pecados à Igreja para ser purificado. Não haverá dia em que o pecado original não pesará sobre mim. Milagrosamente o pecado não manchou Maria, pois ela não confiou em si um único momento, mas somente em Deus. Eis o ensinamento contra a idolatria: quem confia a sua felicidade em qualquer outra coisa que não Deus, pratica idolatria. Por isso que devemos purificar nossos pecados, nossas paixões, nossa vaidade, nosso egoísmo. Se acendo a vela de minha confiança no poder, no dinheiro, na fama, no sexo, nas falsas amizades... então estou fadado a ter uma vida vazia. Maria se purificou sem precisar e até nisso foi humilde.

Quinto Mistério - Perda e Reencontro de Jesus no Templo

Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta quinta dezena, em honra ao vosso reencontro por Maria; e vos pedimos, por este mistério; e por sua intercessão, a verdadeira sabedoria.
Jesus nasceu em nós, quanta alegria! Mas se achamos que isso é eterno ou que ele se tornou nossa propriedade, então o perdemos. Na verdade a nossa busca é constante, e são raras as vezes que podemos olhar para seu rosto, em que Ele nos brinda com seu sorriso ingênuo: eis a felicidade, tal como a de uma criança.

Por isso que Maria, ao perder Jesus, recebeu esta lição: "não sabíeis que eu deveria permanecer nas coisas [na casa] de meu pai?" (Lc 2, 49). Claro que boa parte do caminho até encontrar Jesus se faz sozinho, na reflexão com a consciência, na oração. Mas eu sozinho nunca serei autossuficiente. É preciso viver em comunidade, na Igreja. Lá eu consigo ter a sabedoria para a situação concreta, pelos ensinamentos e sacramentos recebidos. A verdadeira sabedoria é saber o que Deus quer que eu faça na situação concreta. Nesse sentido, a Igreja se amplia para além do templo e transborda em toda a sociedade (ite, missa est), como propagação concreta do evangelho.

É preciso sempre renovar esse encontro de Cristo, em mim e no irmão, na palavra revivificada do padre, no sacrifício de que nós temos o privilégio de participar, de comer o pão dos céus, o alimento de Deus. Esse encontro se dá quando pertencemos ao Corpo místico de Cristo, que não é uma analogia, mas real. Por mais que minha fé seja pequena e eu não consiga enxergar a Cristo em nenhuma dessas situações.

Encerramento

Reza-se um INFINITAS GRAÇAS e um SALVE RAINHA.
Eu vos saúdo, Maria, Filha bem-amada do eterno Pai, Mãe admirável do Filho, Esposa mui fiel do Espírito Santo, templo augusto da santíssima trindade; eu vos saúdo soberana Princesa, a quem tudo está submisso no céu e na terra; eu vos saúdo, seguro refúgio dos pecadores, nossa Senhora da Misericórdia, que jamais repeliste pessoa alguma. Pecador que sou, me prostro aos vossos pés, e vos peço de me obter de Jesus, vosso amado filho, a contrição e o perdão de todos os meus pecados, e a divina sabedoria. Eu me consagro todo a vós, com tudo o que possuo. Eu vos tomo, hoje, por minha Mãe e Senhora. Tratai-me, pois, como o ultimo de vossos filhos e o mais obediente de vossos escravos. Atendei, minha Princesa, atendei aos suspiros de um coração que seja amar-vos e servi-vos fielmente. Que ninguém diga que, entre todos que a vós recorreram, seja eu o primeiro desamparado. Ó minha esperança, Ó minha vida, Ó minha fiel e imaculada Virgem Maria defendei-me, nutri-me, escutai-me, instruí-me, salvai-me. Assim seja. Em Nome do Pai, (+) do Filho e do Espírito Santo. Amém.

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