quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Confissão

Qual é o bem ou qual a vantagem de se colocar transparente? Se confesso a minha fé ou os meus pecados, ganho algo. O comum é esconder-se de tocaia, pra pegar os outros desprevenidos e aproveitar as chances.

A confissão é a extrema felicidade, pois nela me mostro como eu sou. É um auto conhecimento, num mundo em que as pessoas se escondem de si mesmas, com medo do que vão encontrar.

Hoje em dia tem uma modinha de espalhar a quatro cantos os próprios pecados. Seja num programa de TV, ou numa cerveja entre amigos, conta-se vantagem das malfeitorias. Seja promiscuidade ou mesmo em tomar vantagem a custas dos outros. Seria isso confissão?

Isso é o oposto de confissão. É a busca de cúmplices: erro em conjunto, pois assim me confortam; espalho escândalos, fingidamente ignorados pelos omissos e pusilânimes e ganho sua anuência tácita. Se a hipocrisia é o tributo pago pelo vício à virtude, isso aí é o contrário.

Já não é confissão, não busca ouvir a própria profundeza, mas antes silenciá-la com gritos grotescos. A confissão busca escavocar a humanidade dentro dos escombros que o mundo faz dentro de mim. Escombros do trabalho "profissional" sem sentido maquinificante. Do lazer "cada um com seu gosto" bebendo e buscando prazer pra esquecer a escravidão da falta de sentido.

Pra que me confessar com um padre, se posso eu mesmo fazer um exame de consciência? Enfrentar alguém (autorizado), tendo que contar uma coisa vergonhosa (que queria esconder), pois me coloca pra baixo da merda, é um grande desafio. Do contrário tendo à auto indulgência do tipo: "se eu considerar que esse mundo é cruel e com péssimos ambientes, eu nem estou tão ruim". O padre me dá a opção de me reconciliar com Deus, pois é o único ofendido vendo seus filhos se prestando ao descontrole, à submissão. Faço isso, no entanto, após ter reparado o dano a quem de direito.

Não controlo a mim mesmo nos impulsos baixos, como posso cobrar e reclamar de uma sociedade que só faz entregar os bens pedidos? Uma ordem interna corrupta semeará uma ordem idêntica externa. Arrumo a casa, pra depois querer ajudar os outros.

Mas se conto abertamente vantagem da minha malícia, virei amigo do escândalo. De forma que escândalo passa a busca da virtude. O tabu hoje é não seguir conduta sexual livre, é não buscar por quaisquer meios o "sucesso", é amar menos a opinião alheia que os meus princípios.

Por que? Por causa da mesma sociedade frouxa de sempre, que prefere ser gregária a agir por princípios. Ordinários! Não há outro adjetivo.

Mas Deus sopra no íntimo de nosso coração e nós devemos nos reconciliar com essa verdade dentro de nós. E Ele nos acolhe de volta em amizade gratuitamente. A dificuldade em formular ao padre tão vil ato ou hábito mostra um difícil exame e enfrentamento da personalidade (falsamente construída) contra o indivíduo verdadeiro.

O perdão autorizado ministrado por ele mostra a infinita misericórdia de quem sempre está a espera do retorno, como com o filho pródigo. Não é um retorno rancoroso, ou dependente de exercícios graves de privação. É o retorno à casa onde está a maior doçura e acolhimento. É reconhecer que se buscou sofrimento onde havia sedução e que a tranquilidade da casa, onde tinha todos os cuidados, era melhor.

É gratuito para quem reconhece a verdadeira doçura e o verdadeiro amargor. É confessar descobrir os traços de veneno que estão naquele banquete que tanto cobicei. É reconhecer verdadeiramente o desejo na fraude.


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Postado no Facebook em 18/08/2014

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