quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Verdade

De que se trata uma verdade? A verdade só pode ser um atributo de uma proposição, de uma comunicação, de uma representação. Pois a realidade por si só é verdadeira e singela. Quando a narramos, introduzimos a nossa perspectiva, a nossa riqueza em pensamentos e linguagem, a nossa clareza de raciocínio, e a nossa índole (o desejo de fidelidade à realidade). A verdade trata de quão próximo está a imagem daquilo que não podemos ver diretamente.

Quid est veritas?

A realidade remexe com as representações, faz as imagens da mente se sincronizarem e amoldarem aos fatos. O discurso verdadeiro deveria suscitar o efeito mais próximo possível ao que a realidade produziu naquele que testemunhou o fato.

Eis aí a arte da comunicação. Como reproduzir fatos, como fazer reproduzir emoções, como transmitir sutilezas, agudezas do espírito? Por isso que a oratória, a docência, a ciência, a filosofia (etc.) são tão nobres, pois têm um pacto de amizade com a verdade.

Para isso, a linguagem deve ser cultivada. Ao trazer uma palavra à tona, ela deve fazer aparecer um rico leque de experiências, todas elas sintetizadas num foco significante. Para isso temos a educação, que deve cultivar o apreço pela arte, já que ela é que manuseia essa riqueza de vivências. A língua não pode ser denegrida, aplainada, simplificada, mortificada, ressequida, vulgarizada. Uma mesma palavra deve convidar para uma contemplação em que vemos como, a partir de um foco, conseguimos estabelecer uma relação com quase tudo.

Por outro lado, estamos muito bem acostumados -- e mesmo condicionados -- à mentira, um construto social, um padrão moral aceito. Tem uns que acreditam que se não é possível ser perfeito, então avacalhemos. O intelecto humano é naturalmente limitado e apenas pode desejar tender em direção à verdade. Mas isso não deve desanimar em persegui-la.

Para discernir quanto à verdade, as pessoas acabam usando de meios práticos. Isso envolve a probabilidade (estatística) e a credibilidade decorrente. Certas pessoas, certos discursos (filosofias, ideologias), certos linguajares (etc.) trazem uma probabilidade associada. Ou seja, para cada uma desses atos comunicativos, nós avaliamos uma recorrência: uns costumam ser mais e outros menos fiéis à verdade (por quaisquer razões). A isso uns chamam de preconceito, mas o preconceito nada mais é do que julgarmos com as parcas informações que temos, com a confiabilidade disponível. Nocivo é evitar enriquecermos nossa linguagem.

Resta saber que a verdade é nosso alicerce num mundo louco. As leis universais que tornam a realidade previsível e leal conosco são aquilo que nos dá tranquilidade. A sensação de que não podemos confiar nos deixa apreensivos e isso apenas desgasta. Pois afinal, o ser humano é civilizado e procura melhorar as condições de vida de todos. O contrário disso seria um egoismo animalesco.




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Postado no facebook em 20/12/2013

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