quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Mea culpa

Seja um esposo infiel, seja uma amigo que faltou com outro, seja um erro socialmente reprovável, seja uma traição à pátria, seja uma mácula que a consciência enxergou perante Deus. Em tudo aí há duas partes, a ofensora e a ofendida. A igualdade entre os homens, por consequência a civilidade, implica que de cada um é esperado algo, muitas vezes dentro de uma convenção social. Ainda mais quando esse algo for uma promessa.

Se aquele que agride não se importasse com o efeito de seus atos, estaríamos na barbárie, na selva, na lei natural do mais forte. Mas, com efeito, somos homens. A pessoa pede desculpas justamente porque espera reconciliar-se com o outro, pois sabe que depende do outro.

Tem uma piada que conta que havia um rapaz que queria porque queria ganhar na loteria. Todo dia rezava pra isso. Até que ouviu dos céus: "compre o bilhete". O mesmo vale para o perdão: para se reconciliar com a outra pessoa, é necessário antes que se peça o perdão. E para pedir o perdão, pressupõe-se a sinceridade. A isso se deve-se preceder, portanto, um ato de contrição, de reflexão e de arrependimento.

E se o marido infiel diz em palavras dissimuladas que quer reconciliar? Quantos experimentos sociais modernos vivemos? Será que todos os nazistas pediram perdão pelo depuramento racial? Será que todos os comunistas pediram perdão pela luta (leia-se esmagamento) de classes? E os psicopatas que matam inocentes, deles é exigido o arrependimento como uma das condições?

Reconhecer as faltas é exorcizar o passado. Na própria Igreja funciona assim. Muitos são os erros possíveis. No entanto, umas pessoas são extremamente sensíveis ao que ofende a Deus e outras menos. Basicamente deve-se amar a Deus e ao próximo. Muitos não se sensibilizam ao cometer uma ofensa, grande ou pequena. Àquele, cuja consciência não consegue conviver com o erro, é oferecida a reconciliação por meio da confissão. A própria criação como um todo é representada pelo padre, pois foi ela (o próximo) e Deus que foram ofendidos. Reconciliar-se é reconhecer-se parte desse todo, é não mergulhar-se na soberba de achar que "eu não erro".

Esse critério é um balizador para avaliar a confiabilidade das pessoas em condutas íntimas ou políticas. Em primeiro lugar, se ocorrer erro, ele deve ser reconhecido em voz alta diante do agredido. Em segundo lugar, o pedido de desculpas deve ser sincero.

Dizem que é difícil perdoar, mas notaram como é difícil pedir perdão? Requer humildade. E não só. Pedir perdão requer hombridade, que é o atributo de quem assume responsabilidades. Pois o mundo está aí e somos responsáveis por ele.




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Postado no facebook em 11/12/2013

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