De uma forma ou de outra, cada pessoa acaba levando a sua vida. O que define a sua vida são as suas escolhas e cada escolha vai diminuindo as possibilidades no futuro. A Antroposofia fala da trimembração do homem em corpo alma e espírito e também das faculdades que pensar querer e sentir. Toda essa questão das analogias entre números e as proporções e relações do mundo são características de várias linhas de pensamento e eu mesmo não sou o maior conhecedor disso. Sentir parece ser uma coisa pré-determinada pelo meio externo, já que depende dos dados - mesmo considerando-se que as imagens suscitadas nos sujeitos sejam diferentes. O pensar também parece ter uma lógica bastante previsível, de forma que o pensamento unifica e faz as pessoas discutirem até chegarem num acordo (que, se não for o exato, é o melhor disponível).
No entanto o querer parece muito misterioso. De onde surge nossa vontade? Temos uma vontade nossa? Somos seres livres? Essas são questões que muitos levantam e geram muita polêmica por aí. O que eu sei é o seguinte: pela vontade se entendem os atos. Por exemplo, na história é muito mais interessante tentar descobrir qual era a intenção e motivação do que o fato bruto. E aí surge o termo alemão (condizente com seu espírito) Weltasnschauung, equivalente a cosmovisão: quem tem uma cosmo visão, orienta todo ato de sua vida por ela.
No curso de engenharia que eu fiz o professor costumava dizer que não fazer nada também é um planejamento: é uma das escolhas entre as possíveis. De uma forma ou de outra, todo mundo acaba organizando a sua vida sob algum princípio, mesmo que seja a ausência de princípio. Uns são religiosos e querem a salvação; outros seguem os ventos e as marés da hora; outros gostam de curtir a vida; uns fazem do seu ofício o motivo de viver. Freud tem um texto sobre Weltanschauung que critica a visão religiosa e a dos ideólogos políticos e tenta os substituir por uma idolatria à ciência: ele comete o mesmo erro que acha desprezível.
Eu sou um dos mais desprezíveis, pois sigo a retrógrada Igreja Católica Romana. Eu ainda quero falar mais dessa questão da vontade sob o aspecto econômico (do valor) em outro texto. Aqui queria só falar da vontade como coisa misteriosa. Porque uns escolhem umas coisas e outros não? Será que existem bens universais e coisas que todos devem buscar? Ou não? Uns dizem ser melhor deixar cada um por si: não será isso uma evasão ao pensamento? A vontade dá força ao individuo para viver (e viver implica sentir o mundo, trocar com ele) e pede auxílio ao pensamento para otimizar seus fins.
Eu não quero chegar em nenhuma conclusão aqui. Eu só quero convidar à reflexão sobre a nossa vontade, que é quase a mesma reflexão sobre os nossos atos. Particularmente, eu acho que as pessoas devem se lapidar e isso implica que lapidar-se seja um bem universal. Aí alguém retruca: "lapidar pra quê"? Um ato completamente irrefletido se parece mais com o ato instintivo dos animais. E muitos dirão que o homem é só isso. Alguns estipulam metas imediatas (a ponto de não terem metas, mas vontades instantâneas), outros traçam um cronograma longo. Uns nem sequer têm metas: a meta concreta (como conseguir uma casa em 5 anos) seria algo muito rígido e seria preferível uma regra de conduta que norteasse cada ato instantâneo.
Uma coisa é certa: nascemos, vivemos e morremos. Nesse intervalo, todos os nossos atos são a adaptação das nossas vontades perante uma realidade indomável que resiste. Se muitos acreditam que basta passar de qualquer jeito: isso é uma Weltanschauung. Uma cosmovisão é mais fácil de se encontrar naquele que tem uma convicção e que quer fazer algo com muita vontade: certos religiosos, ideólogos, militantes, filósofos... Eu apenas gostaria de perguntar: qual a sua Weltanschauung?
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