quarta-feira, 6 de julho de 2016

Comentários sobra a Devoção a N Sra.

Comentários sobre a Devoção a Nossa Senhora segundo o método de São Luís Maria Grignion Montfort. Nada mais do que o Tratado já diz.



Antes, e somente, a graça.

A graça de N Sra e do Sr Jesus Cristo precede qualquer escolha ou mérito meu. Antes que eu neles pensasse, eles a mim vieram. Eu recebi o Batismo das mãos de homens como um eco da crucificação de Cristo, em que o sangue escorreu e purificou o mundo. Tudo isso muito antes do sacramento da Confirmação, representando o batismo no Jordão, em que vou à Igreja para que Deus confirme minha missão pública. Mas até há pouco, eu achava que eu havia procurado a Deus, por minhas forças.

Entregar-me e as minhas posses.

Se faço uma boa ação, a conformidade com o Espírito Santo em mim me deixa feliz, e creio até mesmo merecer algo em troca, como a salvação. Ao entregar de volta as satisfações e os méritos, para N Sra dispor deles, passamos para a única felicidade possível: a de um bebê que recebe comida na boca quando a mãe julga ser a hora. A felicidade é o filho ter a mãe.

Até mesmo ficava preocupado se eu saberia o momento certo de perceber e meditar alguma alegria ou sofrimento, pra depois oferecer à N Sra como objetos que não mais me pertencem. Mas a devoção é tão fácil, que a N Sra tira e coloca as felicidades e tristezas, sem que eu tenha o último mérito de dizê-la: eis aqui a oferta da minha pequenez.

Pode parecer que eu tenha uma vida como um vendaval ou como um mar de rosas, mas nisso tenho a certeza de uma vida completamente conduzida por N Sra, que resulta no fim da própria devoção: se me alegro, dou graças a Deus, se me entristeço, dou graças a Deus. Maria me conduz à devoção muito mais do que me esforço para praticá-la. O serviço é tão abnegado, que toma ares militares, do sacrifício cego da própria vida: renunciar a todas as felicidades, até mesmo, se fosse possível, entregar-se ao inferno pela alegria servir a ela.

O templo do coração 

A missa se passa num edifício. Mas o [lugar] Santo dos Santos onde Deus quer ser adorado é o templo do no nosso coração. É lá que o Corpo de Cristo quer repousar. Por que se celebram sacrifícios? Porque Deus deve estar presente no meio de nós.

Justamente por isso que a missa deve ser honrada como o maior dos eventos. Mas Jesus Cristo desce como uma semente neste templo ambulante que sou, Igreja que se torna espetáculo a todos os viventes. A comunhão é menos para mim do que para o mundo e para celebrar a ordem de Deus.

Por isso que a comunhão não é o prêmio para os que não pecam — estes nem sequer existem — mas é a semente que cai no mundo e traz a vida. para todos, inclusive para os sem fé. A imagem do Santíssimo Sacramento é espiritualmente um sol com luz mais forte que esse, capaz de, esse mísero pedacinho!, iluminar todo o universo. Por isso, enquanto a comunhão for celebrada, este mundo será viável. Por isso o ódio demoníaco contra a Igreja.

Mas para receber esta honra, somente a mais humilde, a escrava do senhor. Por isso essa devoção a N Sra, que é o molde-ventre que tem o formato do Cristo, recomenda que a Virgem, la Pietà, é a única digna de receber Jesus crucificado. Ninguém chorou o seu choro de mãe, nenhum mérito humano maior que suas lágrimas de sangue. Eu, como escravo, abro alas à minha senhora, pois os maiores ofícios não são dos subalternos, mas dos patrões.

Uma má missa, seja anátema. A missa deve focar em deixar a semente da vida aos que trarão vida ao mundo. Democratizar a comunhão é deixar que os porcos pisem as pérolas e a ira do ultraje desça sobre o mundo. Mas eu sou pecador, como então? N Sra recebe por mim.

Fim do escrúpulo

Sou digno da Eucaristia, da salvação, da mais pequena graça? Não importa. Como agora obedeço ordens, mais servilmente que o soldado mais raso, N Sra ordena que eu ande na via do serviço a ela, ao mundo, à minha salvação... enfim, à ordem de Deus. Inclusive não há possibilidade de falha.

Renunciando a mim, passo a enxergar tudo o que vem a mim como papinha de minha mãe, sejam alegrias ou tristezas, vendavais ou bonanças. Vieram dela, são dela e voltam pra ela. Afinal, ela, criatura, já reina sobre toda a criatura, inclusive o inferno. O Sagrado Coração de Jesus dorme como menino no Imaculado Coração de Maria.

Ofertamos nossa vida a Maria, que dignamente a oferta para Deus. O seu sim disse tudo: ele foi a resposta da autorização pedida por Deus a ela para nos salvar. No final das contas, todos nós já somos escravos dela, com ou contra a nossa vontade, neste belo quadro pintado por Deus.

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Adendo I em 08JUL2016:

Compartilho uma experiência pessoal. Achava que o desânimo fosse um erro de postura meu. Tem filosofias que espalham a ideia: "seja feliz sempre, independente das situações, se for prazerosa ou dolorosa". Mas os fatos em minha vida me levavam a ficar triste e isso me colocava como um fracassado, pois é obrigação ser feliz nas boas e más situações. Pois ser infeliz só levaria a mais infelicidade, o que é verdade é mentira, pois por um lado a tristeza tira nossas energias, mas por outro lado é a melhor professora.

Com essa devoção, os fatos e as felicidades que me acontecem são previamente de N Sra, de modo que nem me preocupo se foi ou não sua intervenção para que algo ocorresse, afinal já é dela mesmo. E com os fatos e as felicidades (ou tristezas) nas mãos delas, pouco importa a relação causal: entenda-se que se eu fico feliz, é por ocorrer tal fato, que por sua se relaciona a um valor que se encontra em mim, que pode ser relativo: valores são relativos a sociedades, épocas, famílias, locais etc.

Mas pouco importa se uma coisa traz ou não felicidade dependendo do valor que eu abraço. Tudo já é de N Sra: o pacote fato-felicidade/tristeza já vem pronto de suas mãos e pra elas já voltam. A minha alegria passa a ser o fato de eu saber que o afago e o beliscão vêm dela. E nisso só há opção de felicidade. Pouco importa a relação fato-valor-norma (para os juristas que me lêem).

Onde fica a tirania da felicidade, que no final das contas descambava no prazer de viagens, comida, sexo, festas etc? Pó ao poder do vento, vaidade das vaidades.

Além do mais, isso previne de um aspecto que eu deploro nas filosofias orientais. O cristão é chamado a ser feliz e triste, a ter compaixão, a se deixar envolver e ter sentimentos junto com o próximo. Os orientais aprendem a ser impassíveis e indiferentes, numa alegria zen constante, que é claramente insensível.

Adendo II em 09JUL2016:

Uma vez ofertada toda a vida é todo o coração a N Sra, diz São Luís (nº 151) que "o valor de todas as suas ações, pensamentos e palavras, é aproveitado para a maior glória de Deus, a não ser que revogue expressamente a intenção da sua oferta".

A devoção é feita num momento em que se toma o propósito de entregar-se inteiramente à N Sra, de maneira expressa e solene. Anualmente pede-se que se renove. Mas alí, me parece que o santo diz que uma vez feita a promessa, nós teremos um auxílio como que de predileção de N Sra.

A devoção parece fraquejar, como somos fracos, e parece que talvez eu não mantenha uma fidelidade no desejo a essa oferta. E se eu ando me esquecendo N Sra, talvez ela ande se esquecendo de mim. Mas não. O amor dela a nós — ainda mais com a predileção — é desproporcionalmente maior que o nosso a ela. Ela se lembra de nós a todo instante e coleta nossa oferta — pois esse foi o nosso propósito convicto inicial — para purificá-la e entregá-la a Deus.

Só ocorreria diferente caso eu expressamente dispensasse seu auxílio. De forma que essa devoção não tem possibilidade de erro. Pois mesmo a nossa pequenez e ingratidão será ofertada como adorno à glória de Deus. A entrega de nosso coração tem um que de atemporal e eterno.

E por maior que seja o nosso compromisso com a corrupção, não se sabe de alguém a quem, tendo recorrido a N Sra, fosse negado o auxílio. Afinal ela é a rainha, com mando inclusive sobre toda a corrupção. Um documento assinado com N Sra revoga qualquer documento em contrário.

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