segunda-feira, 13 de junho de 2016

Por que casar na Igreja?

Em primeiro lugar, só há casamento, propriamente dito, na Igreja, como se verá neste breve texto. Aliás, o que está fora da Igreja deveria ser chamado de contrato ou arranjo.

O tabu número 1 nesse assunto — e por isso já falo logo e com ênfase — é o sexo antes (ou pior, fora) do casamento. É um assunto silenciado, de forma omissa, pelos padres, e tratado nos bastidores livres e velados dos leigos de forma "prática". Na minha opinião, o caos contemporâneo urge que esta questão seja tratada aberta e diretamente, com todas as palavras e sem atenuantes.

Para a noção de casamento, é imprescindível a fidelidade, a monogamia e a perenidade. O texto vai demonstrar isso. Feita a ressalva, volto ao texto.

Em primeiro lugar, a abordagem dos postulantes a um relacionamento. A posição do homem não é simétrica à da mulher, por simples questão da forma e pressupostos de raciocínio. O homem costuma estabelecer metas isoladas e independentes: a atração (por N critérios que a justifique) segue um processo linear. Já a mulher costuma ter um milhão de implicações e correlações a fazer, dentro de sua postura orientada para o presente: estar muito atenta a fatores que parecem importantes agora podem a fazer parecer volúvel ao mudar de opinião nos instantes sucessivos. O relógio biológico e a dedicação para o cuidado das crianças são o que agrava isso na mulher. Homem e mulher se complementam nesse empreendimento.

Em segundo lugar, é de trás pra frente. O casamento não é em função dos agentes, mas sim em função do resultado. Não se casa para se divertir, mas para viver em amizade e colaboração mútua, pensando — e essa é sua finalidade — que pode gerar filhos. E a estrutura familiar é aquilo que de melhor se pode pensar para a criação de uma pessoa (o estado nunca vai ter um substituto). Lembrando que a dedicação dos pais para com os filhos é tão bela e custosa (dura uns 18 anos ou mais), que pode ser considerado um dos maiores atos de caridade — e caridade é o que há no cristianismo. E lembrando [2x] que a geração e criação de um ser humano é obra maior que qualquer feito profissional (olha aí as feministas desdenhando a maternidade!), continuando propriamente a criação de Deus.

Em terceiro lugar, o fiador. Se homem e mulher se relacionam de forma casual, o fiador é o demônio. Se se relacionam no casamento, o fiador é Deus. Explico. A mulher está pensamdo em infinitos fatores, mas sabe que, dado um rapaz interessante, pode cogitar que talvez o amarre se o levar para a cama. Se a mulher se reserva à castidade, não há como haver relação sexual, a não ser no estupro. Em tendo a relação sexual, o homem vai ficar muito desconfiado da fidelidade dela: se foi fácil pra mim... Aliás, o fácil tem pouco valor. A mesma desconfiança terá a mulher (ainda mais com o feminismo): será que ele me usou só como um objeto? E está plantada a semente da desconfiança. E o pai da dúvida é o demônio.

A grande diferença do casamento é a honestidade do propósito: a finalidade é dita explícita e claramente. E o propósito está acima de qualquer desejo mesquinho do homem ou da mulher (no final, esse desejo mesquinho se resume ao prazer). O propósito está acima do homem e da mulher: está em Deus e na continuação de sua obra. O matrimônio que eu faço com o outro é antes com Deus. Se eu o traio, traio antes a Deus, o fiador, pois é antes a ele (e não ao esposo(a)) que me propus casar.

Em quarto lugar, a devoção. O cristão verdadeiro é chamado a dar a vida por Deus. Podemos dar dinheiro e fazer muitas obras de caridade. Mas Deus quer tudo de nós, principalmente nosso coração. Por isso, o casamento é mais um aspecto da nossa vida que, escolhida essa vocação, devemos ofertar a Deus.

Encerro aqui essa breve argumentação da necessidade do casamento.

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Adendo I, em 17jun2016

Para melhor compreender o casamento, faço um paralelo com a virgindade para a Igreja, inspirado na leitura de Filoteia, de São Francisco de Sales, de forma que o entendimento de ambos, casamento e virgindade, será pleno, um enriquecido pelo outro.

Ao amar alguém, a dedicação e o zelo podem extravazar no ciúmes, dada a força que há nesse amor e a expectativa de amor recíproco. É um fogo que está nos desejos de uma pessoa. O nosso amor dirigido a Deus deveria ter tão grande ou maior força, mas a nossa fé é débil. Força sim, mas em analogia, pois o amor a Deus é ágape, ou seja, sem a carne.

Da mesma forma que o amor a Deus pode se inspirar no amor humano, o contrário também ocorre. Desde sempre a castidade é mantida para que se direcione o amor mais para Deus. O próprio fogo sexual se apaga com o tempo; se daí o amor termina, é porque não havia amor de forma alguma. O amor devia ser então o mesmo da medida de Deus: amar sem certeza de ser amado de volta.

Deixo duas citações do livro acima:

"Mas nisto consiste a sublimidade do amor Celeste: fazer combater o amante pelo amor, sem saber se tem o amor pelo qual combate." (Parte IV, Cap. 4)

"Ó virgens, se pretendeis casar-vos, conservai então cuidadosamente o vosso primeiro amor para a pessoa que o céu vos destinar. É uma fraude apresentar-lhe um coração que já foi possuído, usado e gasto pelo amor, em vez de um coração inteiro e sincero*. Mas se, por vossa felicidade, vos sentindo chamadas para as núpcias castas e virginais do Cordeiro imaculado, ah! então conservai com toda a delicadeza de consciência todo o vosso amor para esse Divino Esposo, (...) que nada ama mais que a pureza..." (Parte III, Cap. 41)

* Acrescento, ao "inteiro e sincero", o isento de malícias, tramóias, insídias e puro egoísmo.

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Adendo II, em 19jun2016

Ao se apaixonar inteiramente, que é a única forma de amor verdadeiro e completo, diz-se algo como "entreguei o meu coração a ele(a)". Isso mostra o caráter definitivo da intenção, pois uma vez dado, o objeto não é mais meu.

De forma similar, no Tratado da Verdadeira Devoção a Nossa Senhora, podemos dizer que damos a ela o nosso coração, com nossas alegrias, tristezas, erros, acertos, bondade e maldade. Assim, que ela possa pegar esse coração pequeno e ferido, adorná-lo e transformá-lo numa oferenda agradável a Deus, coisa para a qual somos indignos e incapazes.

Na verdade, o casamento era pra ser uma dessas oferendas a Deus. Por isso o melhor seria dar antes o coração a Deus (por Maria), para que depois Ele o entregasse ao marido/mulher. Pois, ao prometer o coração a alguém, podemos mentir e não entregar tudo. O coração é daquelas coisas que ou se entrega tudo, ou nada. Por isso é Deus ou o dinheiro. Por isso que Jesus Cristo é o esposo da Igreja, entregando seu coração verdadeiramente na cruz, mesmo sem perguntar se a esposa lhe seria fiel.

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Adendo III, em 19jun2016

Momento difícil para se compor uma ode ao casamento, mostrando sua beleza e dignidade. Bem agora, em que o Papa tem falado de colaborações serem casamento e matrimônio serem nulos, pela ignorância dos noivos de seu verdadeiro significado.

Isso, em caso de verdade, mostraria uma culpa extremamente grande do clero em primeiro lugar. Quem é o clero senão o Papa e seus súditos? Os padres estariam falhando no ensinamento e também no louvor ao casamento, semelhante ao que faço nesta ode.

O que se tem preferido? Já que os católicos já não se interessam em ser católicos, acolhamo-os do jeito que estão. Aliás, este proselitismo seria da mesma forma com quem está fora da Igreja. Mas é justo isso, esse esfarelamento da beleza da Igreja, que afastou as pessoas sérias, que gostam de compromisso e responsabilidade?

Pois é, em prol da unidade, os bons passarão por mais esse martírio, de ficarem em dúvida se a virtude, que a custas escolheram, de fato tem algum valor. Pois digo que não se afastem da reverência à unidade e ao Papa, mas por outro lado a beleza que vocês escolheram é superior e digam isso em alto e bom tom a quem tentar dizer o contrário.

Façamos isso, mesmo com o silêncio do Papa. Caminhamos para o martírio de seguir a verdade sem que ela se mostre resplendente.

Quanto à coabitação, tudo bem ser acolhedor. Mas nunca vou recomendar como o mais desejável e melhor, como se pudesse ser ensinado. E que orgulho é esse de não recomendar que casem e recebam a bênção de Deus? Quem quer seguir a Deus e faz desdém de sua bênção em cada pequena coisa de sua vida...

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Adendo IV, em 26jun2016

Quando a(s) pessoa(s) decide(m) (em comum acordo) que não vai(ão) se casar, o que dizem? "É necessário viver um pouco junto pra saber se vou gostar dele, ou se há algum problema que só a convivência vai mostrar". Pois essa é a prova de que o relacionamento que assim nasce, nasceu da dúvida (cujo fiador é o demônio). O amor não verifica se vai dar certo: ele FAZ dar certo. O amor verdadeiro ama por primeiro e incondicionalmente.

Sempre haverá dúvida, pois o ser humano é um ser moral, que comete falhas. Por isso é bom verificar primeiro se o mais profundo nos princípios de cada um dos namorados/noivos converge. Mas depois de aceito o compromisso, é o amor que vai cimentar o relacionamento na confiança.

Outros, mais "refinados", fingirão que não pensam como disse acima e dirão que esse compromisso formal é como que uma pompa materialista e que não representa o significado espiritual que cada um do casal atribui. Digo duas coisas.

Primeiro, se é amor verdadeiro, por que não assumir na frente de todos (da comunidade) e receber por acréscimo a bênção de Deus?

Segundo, esse é mais um sintoma de uma sociedade que perdeu o simbolismo, perdeu a cerimônia que alude ao sublime, perdeu a referência ao sagrado. Perdeu justamente que o espírito se manifeste no concreto pela cerimônia. Na verdade, para essas pessoas tudo ficou indiferente.

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Adendo V, em 25mai2019

Tentei deixar, na época, o texto mais ameno, mas é preciso, para não deixar que possíveis objeções feministas ou materialistas prevaleçam, que eu comente especificamente sobre o sexo casual. Se, por um lado, o casamento promete amor até o fim da vida, o sexo casual está no extremo oposto, ou seja, é o "amor" rápido, agora, sem compromisso, "desapegado".

O pessoal com argumentos panteístas (ou imanentistas, ou gnósticos, ou de espiritualidades orientais) vai dizer que há sempre algo de espiritual no sexo, como se fosse uma forma de reconectar a unidade perdida no mundo dos egos. Não vai ser essa a primeira vez que vou rechaçar opiniões desse tipo.

Mas o que quero ressaltar aqui é que o romantismo confunde prazer com amor. A medida do amor é a cruz, é fazer o certo e sofrer por isso. Pelo contrário, o deslumbramento de ter o prazer sexual com alguém "tão interessante", que "se encaixa tão bem", que "tem os mesmos gostos" — como o destino que uniu essas almas gêmeas!! — isso tudo não é amor, mas, por enquanto, só prazer. Por isso que os gregos separam bem o que é eros, philía e ágape.

E o sexo casual, ou mesmo fora do casamento (ou seja, sem querer compromisso), é prostituição. Por uma razão muito simples. A prostituição é trocar o corpo, para que seja usado para fruição de outrem, por algum dinheiro ou mercadoria. Ora, se há um acordo mútuo, sem desembolso de dinheiro, e a mercadoria trocada é a mesma, se ambos consentem em dar o corpo para o outro ter prazer, então o ato continua sendo prostituição.

O casamento é a união para colaboração mútua de homem e mulher construírem toda uma vida em amizade, em complementaridade. O prazer é uma consequência da dedicação diária, do esforço, da fidelidade. E os filhos, se vierem, são os frutos. Essa relação é sublime, já a prostituição não, pois é moralmente reprovável, causa desagregação social e gera filhos desamparados (isso quando não são assassinados).

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