quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Fiéis da Igreja Católica: humildade

Queria expor um diferencial, fruto de longas reflexões pessoais. Poderia enfocar muita coisa da Igreja (por exemplo, a centralidade da eucaristia), mas queria menos ressaltar uma questão lógico- filosófica que uma prática ligada a um verdadeiro sentimento religioso. É aquilo que vejo como questão central na opção de vida das pessoas.

Para não perder tempo, exponho já: o diferencial é a supervalorização da humildade.

Entre as diversas grandes escolhas que as pessoas fazem na condução de sua vida, as pessoas acreditam que o principal talvez seja a carreira profissional, a decisão de com quem formar uma família ou quais dons e faculdades cultivar em si. Mas essas não são as grandes decisões. A grande decisão está na escolha de quais são os valores e princípios da vida. São eles que fundamentam todo o significado e padrão de medida para as próprias ações. Isso é o que chamo de religiosidade (em sentido amplo) de cada pessoa.

Todo o debate polêmico se dá no conflito entre os vários fundamentos. E são várias as religiões disponíveis. Há as tradicionais, como judaísmo, islamismo, catolicismo, ortodoxia, protestantismo, budismo, hinduísmo, yoga, xamanismo, politeísmo etc. Há as nuances de religião moderna, que ora cultua o estado, ora a sociedade, ora o indivíduo, ora o liberalismo, ora o libertarianismo... essas religiões modernas são tácitas e difíceis de se identificar ou traçar suas fronteiras.

Ao falar da Igreja Católica, poderia falar dos sete sacramentos como canal da graça divina, poderia falar da unidade, universalidade ou da tradição fiel apostólica. Poderia comparar com as religiões da Índia, que tratam de outra forma bem e mal, não têm a culpa originária. Ou com os protestantes, que não têm o Papa, os Santos e Maria acima de toda criatura. Ou com os modernos, que acham que é possível ter vida privada e pública independentes entre si.

E a humildade? Eu poderia falar de Deus que se rebaixou à condição humana (conceito inaceitável para o muçulmano) para salvar toda humanidade sem demonstrar o poder (inaceitável para o judeu). Poderia falar da abnegação e a entrega perfeita de Maria à vontade de Deus. Poderia falar do cristão, que não é autos suficiente, que se humilha mas não se anula.

Entretanto quero falar da humildade na perspectiva do fiel, ao conviver com todas as religiões de hoje e da forma que isso pode trazer vergonha. A figura do humilde é a daquele que não engrandece sua importância (vide Magnificat) e a forma de aí chegar é a humilhação.

Desde o íntimo da fé pela consciência, nos atos mais recônditos, chegando ao que é mais exterior (que extravasa para o mundo), a pessoa se encontra numa unidade coerente. Na parte interna está a humilhação perante Deus, que reconhece a própria fraqueza e solicita auxílio da graça. Mas justamente nessa parte externa é que está a humilhação social.

Os sinais exteriores são pedagogos da sociedade e selo de saúde do fiel, neles se mostram as diferenças entre as cosmovisões das pessoas. E é nos pequenos detalhes que se mostram grandes significados. Forma de vestir e falar modestos ou não: usar do bom gosto, insinuar-se, usar linguajar baixo. Usar símbolos: uma cruz, um escapulário, uma corrente, um anel, um piercing, uma tatuagem. A expressão do rosto, os ambientes que se frequenta, a forma de dispor o tempo livre.

Quais são as idéias que essas coisas trazem ou fomentam? Ou a forma é independente do conteúdo?

No católico, os sinais exteriores sempre relembram da humildade.

Para o católico, os méritos de uma boa ação, o sucesso profissional, a formação de uma boa família, a felicidade... todas essas coisas têm um mérito secundário na pessoa e primário na graça. O católico não está mesquinho cobrando os seus direitos, mas comemora suas graças recebidas. Ele carrega a consciência da tristeza inevitável do presente, mas sua alegria se apóia na esperança e no bem da verdade universal.

O católico mortifica seus maus hábitos, pois não acredita que mal e bem são indiferentes (nem que está acima disso) e não se acomoda ao mal, acreditando que possa ter um fruto bom. Ele se submete à autoridade do estado e da Igreja, sem resmungar que isso tire sua dignidade ou liberdade, não traz o espírito da rebelião, pois não se acha melhor ou acima ou igual, pois acredita na hierarquia das coisas e valores, pois sua liberdade está na consciência e sua obediência é uma virtude.

O católico tem práticas singelas que fazem a malícia caçoar de sua inocência. Como o fato de rezar (por exemplo, o terço), frequentar Missa. O próprio riso e o olhar demonstram a malícia com ar superior, como quem pensa: "esse trouxa não aproveita, ele não sabe como as coisas são, ele não está na roda das grandes decisões e acontecimentos". Mas essas grandes questões, privilégios e decisões (vãs glórias) são a seita dos aproveitadores, a panelinha fechada dos saqueadores. Sendo que a revolução da conversão da própria é um mistério imprevisível que silenciosamente chacoalha o mundo.

A humildade é central para o católico. Ele pode participar de tudo, mas sua confiança estará em Deus. Um exemplo é a confiança no conhecimento (inclusive espiritual) e a arrogância por detê-lo.

Quantos católicos estão dando exemplo de humildade?



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Postado no Facebook em 20/01/2015

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